sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O nosso 1º. automóvel

 Este foi o nosso 1º. automóvel... lindo! 
Estávamos em abril de 1969 e aqui a então jovem magrinha
está toda janota com um lindo vestido de croché 
feito pela sua mamã!
O cenário é a rua Jacarandá... em Lourenço Marques (Maputo), 
Moçambique.
 E este era o livrete do nosso belo carrinho de volante à direita.
Nos Açores eu tive aulas de condução num Volkswagen carocha, mas foi no Hillman Minx De Luxe Saloon, de banco inteiro à frente, com mudanças ao volante, que eu treinei. Naquele tempo podíamos conduzir ao lado de uma pessoa encartada. 
Em Moçambique tive de aprender a conduzir pela direita, isso foi fácil, mas de vez em quando metia  a 1ª. no pisca-pisca!... Este carrinho andava que era um lindo: ao domingo íamos ao banho à praia do Bilene, a 180km de Maputo. Ainda veio para Coimbra, mas acabámos por vendê-lo quando os filhos cresceram.
Este era o seu BI:
A seguir mostro o livrete do 1º. carro do meu pai, que agora é meu e está a restaurar. Tenho fotos dele, mas hoje não as pude procurar. Logo que as tenha à mão publico-as para satisfazer a curiosidade de quem é apreciador destas relíquias!
Tenho muito empenho nas nossas coisas antigas e às vezes sinto saudades de coisas que já tivemos. Mas quando as pessoas começam a desaparecer, ficam muito mais fortes as saudades das pessoas do que das coisas... e acabamos por já não sentir a falta de nada!
Vou a S. Miguel. 
Não me desejem boas férias! Vou em missão.
UM ABRAÇO


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Hoje seria dia de festa...

Vou ouvir esta música em memória do meu pai, 
Hugo Nunes da Silva 
que, se fosse vivo, completaria hoje 102 anos.
                                      São muitos anos para uma pessoa viver... há quem os viva,
mas os que ele viveu foram tão poucos... apenas 53!
Sinto muitas saudades dos seus beijos, dos seus carinhos, da sua voz...
Éramos 4 filhos e eu era a menina entre os 3 rapazes.
Viveu com a minha mãe um grande amor, cheio de romantismo, a que eu, felizmente ainda pude assistir. Inesperadamente a morte separou-os, pondo fim a quase 28 anos de felicidade. 
De manhã, encostando levemente os nós dos dedos na porta do meu quarto que, de noite, 
ficava apenas encostada, entrava perguntando docemente 
"como está a minha querida filha?". 
Docemente, sim, porque a voz do meu pai era esfuziante, 
vibrava forte, e a menina poderia estar ainda a dormir.
Usava a voz forte na barra do tribunal, onde defendia com firmeza e sucesso casos difíceis que ganhava.
Usava a voz forte para cantar as mais belas árias de ópera que ainda hoje eu aprecio.
Usava a voz forte cantando no Orfeon Académico de Coimbra, quando estudante. Lembro-me de, num espetáculo do orfeon no Teatro Micaelense, o maestro Dr. Raposo Marques chamar ao palco os antigos orfeonistas e o meu pai se juntar ao seu naipe para cantar a Aleluia, do Messias de Handel.
Usava a voz forte quando ia ao futebol e, da bancada, barafustava contra o árbitro que cometesse erros contra o seu clube de cor verde. Ficava nervoso quando a Académica jogava com o Sporting!
Usava a voz forte para nos repreender quando fugíamos (raras vezes!...) às regras da boa educação.
E como hoje sinto falta dessa voz forte... recordando, com predominância, a sua voz mais suave quando me pedia que tocasse piano enquanto lia, sentado na poltrona ao meu lado. E quando me enganava, ele balbuciava "repete"... Se me enganasse muitas vezes, dizia baixinho "és como a mulinha do avô: para sempre no mesmo sítio!". E eu tocava até não errar.
O meu pai era Hugo e Hugo era também o meu irmão que foi morto na guerra, em Angola. Hugo é também o meu filho, um neto e outros terão esse nome em gerações vindouras... que eu já não conhecerei! Só desejo que sejam todos parecidos com este 1º. Hugo: carinhosos, inteligentes, divertidos, trabalhadores, honestos, humanistas... e de vida mais longa!
A fotografia que nos acompanhou quando viemos estudar para Coimbra, altura em que a minha mãe, já viúva, não se quis separar dos filhos, para que a família que restava se mantivesse unida, permanece no mesmo lugar. 
É assim que convivo diariamente com o meu pai. 
Foi assim que os netos cresceram, olhando o avô e escutando as estórias e anedotas em que ele era o divertido protagonista.
É assim que os bisnetos, mal abrem os olhinhos quando aqui chegam, ficam a conhecer o bisavô.
É assim que lhes é ensinado o nome HUGO.
UM ABRAÇO